terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Depoimentos de indignação II

DEPOIMENTO DE UM PROFESSOR 

Estou muito indignado! Meu sentimento é o de revolta! Não apenas por causa de salário, pois hoje ganho bem melhor que em outros tempos quando eu não era professor. Minha insatisfação é devida à incoerência que vivemos hoje. 

Assumi 38 aulas neste ano, das quais sou obrigado a cuidar de 37 diários. Terminei de preencher meu último diário às 18hs do dia do último conselho escolar, sendo que a reunião do conselho foi às 19hs. Minha extenuante tarefa é a de conseguir dar conta destes diários, preso à um sistema arcaico, o que para mim é frustrante, pois tenho intimidade com a tecnologia - além de professor sou projetista-cadista e designer gráfico para complementar minha renda. Também tenho que dar conta de ministrar filosofia com 1 aula por semana, que comporta a média de 45 min cada aula, e cerca de 30 min reais de aproveitamento. Mais um vez, sou engolido pelo sistema, que por seu formato, não me permite estimular os alunos à leitura e interpretação crítica - o mínimo que se espera da filosofia.

Com a política de números e estatísticas vigente no ensino público, não só eu, mas todos os meus colegas são impelidos à aprovar alunos sem as condições adequadas de aprendizado. Ainda sim, me esforço, procuro preparar aulas mais atraentes, estudo e pesquiso para dotar de significado o conteúdo das minhas aulas. Pasmem: eu preparo minhas aulas! Vídeos, dinâmicas, debates, datashow, e todo o necessário para estimular e prender a atenção do aluno. Contudo, nado contra a maré, pois esbarro na estrutura precária das escolas em que dou aula. Existe muita boa vontade para fazer daquele ambiente decrépito, um lugar agradável e favorável à educação. Mas no fim das contas, quem é penalizado ou culpado por qualquer fracasso? Sou eu, professor! Pais, gestores (nem todos), alunos e autoridades imputam a mim qualquer sinal de fracasso no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, que aliás, em sua maioria, mal sabem ler e escrever, mesmo no ensino médio. 

Até agora falei da minha luta como professor, mas também sou estudante. Atualmente faço mestrado na UFG, o que me exige uma produção intelectual muito profunda e árdua. Passei recentemente pela qualificação, com a ressalva de que tenho muito a fazer em minha dissertação, o que me deixa numa situação bastante desconfortável. Sempre fui muito zeloso com meus estudos, empenhado, me esforço ao máximo para aprender e produzir com qualidade. Tenho uma série de leituras por fazer e revisões textuais a realizar para concluir com êxito minha dissertação. Me preparei para que ano que vem pudesse diminuir minha carga horária nas escolas, pois tinha em mente que receberíamos o piso salarial sem prejuízos financeiros. Ainda alimentava uma vã esperança de que o governo não nos deixaria na mão. Ledo engano. Terei que pegar a mesma carga horária para não ter minha percepção de renda drasticamente reduzida, pois ano que vem, não receberei mais a bolsa de incentivo da CAPES pelo mestrado. Além disso tudo, faço meus bicos, tenho clientes a atender para dar conta de manter minha família. 

Explicado tudo isso, penso que meu desabafo é justo: Agora irão dizer que EU SOU VAGABUNDO e PREGUIÇOSO? E que choro de barriga cheia? Me perdoem amigos, não é do meu feitio, mas que essas pessoas vão pra puta que os pariu! Quer dizer que uma pessoa como eu, que lutou a vida inteira para ser alguém melhor, um cidadão consciente, um homem digno, com uma formação adequada, filho de empregada doméstica, sou pior do que este bando (quadrilha) de safados que conseguem tudo o que têm pela esperteza, sem méritos, sempre prejudicando outras pessoas para conseguir saciar sua sede de poder e riqueza mesquinhos e desumanos??? NÃO O ADMITO!! Tenho orgulho do que sou, vergonha na cara, amor próprio e brio! Não serão pessoas desqualificadas que irão diminuir todo meu legado e minha história de vida, com suas peripécias e maquinações. Eu, meu amigos, lutarei até o fim contra esta corja. E digo mais: os professores que não fizerem o mesmo, merecem coisa pior! Quem não valoriza aquilo que é e conquistou à duras penas, não é digno dos frutos da sua luta.


Fabrício Queiroz 



DEPOIMENTO DE UM ACADÊMICO

Ainda não sou professor formado, mas compartilho a raiva por mais esse triste episódio do governo de Goiás. 

Fiz dois estágios em escolas diferentes e comecei a ver que isso nunca vai mudar. Principalmente na educação física, onde todos ficam bitolados em jogar bola, poucos professores utilizam o infinito arsenal pedagógico mesmo que sem estrutura adequada para fazer seus alunos pensarem.Para mim, enquanto a escola for assim cheia de costumes, modas, ou seja, engessado, os alunos vão continuar folgados, sem aprender muito e passando de ano sem mérito. 

Os professores tem que se unir, mesmo que isso seja burlar um pouco o tão aclamado PCN, ou as ordens de pessoas que estão nos cargos maiores e tirar pelo menos dez minutos por aula para discutir assuntos relacionados a este episódio por exemplo. 

Para o Governo, os alunos saírem da escola com visão crítica do mundo é arriscado. E cabe a nós professores fazer com que esse risco aumente e muito, afinal ano que vem temos eleições e mais uma vez os pais das crianças ou alunos menos favorecidos irão votar em troca de favores como sempre aconteceu neste curral imundo e podre de políticos corruptos que apenas iludem todos e fazem suas vontades independente das consequências. Aí depois reclamam que a educação no estado e no país é horrível. 

Galahad (Acadêmico de Educação Física)

ESCREVA TAMBÉM O SEU DEPOIMENTO DE INDIGNAÇÃO E ENVIE PARA:

 mobilizacaoprofessoresgo@gmail.com

Um comentário:

  1. A burocracia é um outro obstáculo a ser vencido. Me identifico com os problemas dos dois colegas!
    Um abraço.

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