quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Os caminhos da reforma educacional em Goiás - uma breve reflexão

Ao contrário do que se tem dito na mídia e se alastrado entre a sociedade, a valorização da Educação no Estado de Goiás, encontra-se diante de um verdadeiro retrocesso educacional. A política de valorização, tão divulgada pelo Secretário de Educação, Thiago Peixoto, nada mais é do que uma afronta intelectual a nós professores, porque diferentemente de valorizar o professor, o que acontece é o achatamento dos salários, o desmoronamento do plano de carreira e a alteração da matriz curricular que efetiva um conceito educacional nos moldes empresariais.

Não podemos deixar de destacar a forma estratégica como nosso Secretário tem administrado suas ações, com intuito de desmobilizar a categoria e aprovar rapidamente uma reforma que só traz prejuízos para a educação. A estratégia covarde está na postergação para votação da reforma, deixada para o fim do ano, no momento em que o ano letivo já praticamente se encerrara. Uma tentativa de evitar uma manifestação coletiva e quem sabe acalmar os ânimos dos professores durante as férias. A falta de informações também deve ser destacada. A agilidade com que a reforma tramitou e a não liberação da proposta para nós, cidadãos, configura a performance desonesta com que o Governo se impõe.

Longe de adequar os salários dos professores ao piso salarial, na verdade, o que aconteceu foi a incorporação das gratificações ao vencimento, sob o pretexto de que dessa forma já será pago o piso. Nosso salário não será acrescido em absolutamente nada (para aqueles que já possuem gratificação). Este reajuste já inclui, inclusive, a correção da data base do ano de 2011 e 2012. Era essa a promessa Secretário? A Promessa de que iria pagar acima do piso nacional e ainda pagar retroativamente a defasagem decorrida da data base do ano que se encerra? Era essa a estratégia?

Sinceramente, acredito que o Governo tem brincado com a nossa confiança, com a nossa esperança, brincando com nossos direitos e até nos humilhando, fazendo-nos esperar e, afinal, como um último golpe, fazer uma proposta indecorosa. Uma afronta!

Vale pontuar aqui nosso plano educacional que foi desmoronado, perdemos os direitos que conquistamos com muita luta e suor. Segundo a reforma, só haverá gratificação por titularidade nos níveis de mestrado e doutorado e é claro, de forma reduzida. Retrocedemos de 40% do mestrado para 10% e de 50% do doutorado para 20%. É evidente que a qualificação profissional não interessa ao Estado, o que lhe interessa são professores medíocres que não se qualifiquem e, simplesmente, sigam o modelo pronto e acabado de uma educação empresarial, em que o interessante passa a ser as metas, os resultados, as tabelas, os números.

O sistema da meritocracia é uma cilada. Em um sistema totalmente viciado é evidente que o sistema seletivo não será isento, se configurando em uma oportunidade de se concretizar favores políticos. Ao se remunerar os professores e alunos que atinjam as metas estabelecidas, estaremos instaurando um processo de competição dentro do ambiente escolar o que nos desafia a pensar no ideal de formação, educação e ética desenvolvidas nas escolas. Por último, a meritocracia responsabiliza o sucesso ou fracasso como algo individual, ou seja, seu fracasso será conseqüência da sua incompetência e não como algo inerente ao contexto que se insere, como por exemplo, falta de infra-estrutura, salários degradantes, materiais didáticos insuficientes.

Em nome da meritocracia, já vimos alguns colegas venderem seu direito à paralisação. Trata-se do programa Reconhecer, comentado como um grande feito do Governo. Esse programa é uma tentativa de desmobilização da categoria do professorado, já que por ele só receberão a gratificação aqueles que não faltarem sequer um dia de aula. Também se configura como mais uma artimanha do Governo para não cumprir sua promessa-o pagamento do 14° salário era uma promessa de campanha do Governador é agora aparece com uma nova roupagem quase impossível de ser conquistado, a não ser se negarmos a luta pelo ensino, se negarmos nossa categoria.

É necessário e preciso desvendar as mazelas, que aparecem na mídia como atuações excelentes do Governo para com a educação. Esclarecer estes assuntos à sociedade é uma tentativa de nos mobilizarmos por uma causa que interessa a todos – a educação justa, igualitária e que preze verdadeiramente pela qualidade da formação intelectual dos nossos alunos.


Terita Michele

5 comentários:

  1. Tarita, parabéns pelo texto tão bem escrito que expressa a realidade da educação no Estado de Goiás

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Ainda não sou professor formado, mas compartilho a raiva por mais esse triste episódio do governo de Goiás.
    Fiz dois estágios em escolas diferentes e comecei a ver que isso nunca vai mudar. Principalmente na educação física, onde todos ficam bitolados em jogar bola, poucos professores utilizam o infinito arsenal pedagógico mesmo que sem estrutura adequada para fazer seus alunos pensarem.
    Para mim, enquanto a escola for assim cheia de costumes, modas, ou seja, engessado, os alunos vão continuar folgados, sem aprender muito e passando de ano sem mérito.
    Os professores tem que se unir, mesmo que isso seja burlar um pouco o tão aclamado PCN, ou as ordens de pessoas que estão nos cargos maiores e tirar pelo menos dez minutos por aula para discutir assuntos relacionados a este episódio por exemplo.
    Para o Governo, os alunos saírem da escola com visão crítica do mundo é arriscado. E cabe a nós professores fazer com que esse risco aumente e muito, afinal ano que vem temos eleições e mais uma vez os pais das crianças ou alunos menos favorecidos irão votar em troca de favores como sempre aconteceu neste curral imundo e podre de políticos corruptos que apenas iludem todos e fazem suas vontades independente das consequências. Aí depois reclamam que a educação no estado e no país é horrível.

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  4. É uma pena... o sistema faz com que o desencanto tome o lugar dos sonhos de fazer uma educação de verdade. Acabamos cedendo à pressão para não perder o "bônus", e para o diretor não perder o cargo não podemos reprovar nossos alunos, mesmo que não alcancem a média... números, metas... temos que cumprir, senão...
    Onde vamos parar???

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  5. Excelente texto, parabéns! Vale ressaltar que toda artimanha do governo em desmobilizar os professores encontra seu ápice, no presente momento, no pagamento do bônus do programa reconhecer. Muitos professores irão apaziguar seus sentimentos de indignação por uma esmola que não repara os prejuízos que estamos sofrendo ao longo dos anos, em especial na atual gerência de Thiago peixoto e Marconi Perillo. Professores, não se deixem enganar! Não estamos indignados apenas com o achatamento da carreira, mas com todo um cenário que vem sendo construído por estes senhores que traíram a educação em Goiás. Vamos recordar?
    -Fechamento de laboratórios de informática, ciências e bibliotecas;
    -Prova de seleção para diretores;
    -Criação do 0800 para fiscalizar professores;
    -Instalação de placas nas portas das escolas para divulgação do IDEB;
    -Criação do programa RECONHECER que penaliza professores por suas ausências justificadas, tais como: doença, casamento, formação profissional, luta sindical,etc.
    -Política de meritocracia: Premiação para escolas, alunos e professores.
    -Mudança do banco para pagamento dos servidores;
    -Mudança do plano de cargos e salários do magistério;
    -Demora na convocação de concursados;
    -Criação do SAEGO;
    -Redução do recesso de fim de ano;
    -Mudança da grade curricular com o prejuízo das disciplinas de filosofia, sociologia, artes, educação física, língua espanhola e ensino religioso;
    Estas foram algumas ações que consegui me lembrar. Peço aos colegas que aumentem essa lista.

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