domingo, 18 de dezembro de 2011

Depoimentos de indignação

DEPOIMENTO DE UMA ESTUDANTE


"Vi minha professora chorar. A mulher que teve a responsabilidade de me formar cidadã durante meus três anos de ensino médio, hoje chorou. Aquela que mesmo não encontrando forças, voz ou motivação e que nunca me abandonou, viu-se sendo humilhada


Aos confusos, explicarei: Na noite desta quinta-feira (15/12), na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás vimos sendo aprovado o projeto que altera o “Estatuto e o Plano de Cargos e Vencimentos do Pessoal do Magistério”, e os pontos foram à gratificação de titularidade e achatamento da carreira.Além de vê-la chorar, vi também alguns “representantes do povo” (que só representam o governador) dizer que sabiam o melhor para ela.Ela não estava sozinha, quem realmente luta ao lado da educação goiana estava aos berros com ela. 


Não generalizarei aquela “casa do povo”. Pois não fui cega ao ver que nem todos ali tinham a mesma conduta que a maioria daquela casa. Vi a oposição (que por sinal faço questão de citar seus nomes: Isaura Lemos; Mauro Rubem; Daniel Vilela; Bruno Peixoto; Luis Cesar Bueno; José Essado; Major Araújo; Francisco Gedda e Humberto Aidar) defendendo-a.Mas professora, tudo que me ensinaste não foi em vão. O ano que se inicia é ano eleitoral. Lembrarei, dos que hoje, não se lembraram de ti. Vou me lembrar daqueles que visitaram tua casa, beijaram a testa de seu filho e com lindos discursos lhe prometeram melhores condições de trabalho. E que hoje lhe desvaloriza. E nesse dia não serei apenas e/ou você. Sei que toda uma multidão lembrará. É governo: “Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”

Cláudia Harliene



DEPOIMENTO DE UM PROFESSOR

"Quero registrar uma das minhas sensações sobre o espetáculo de horrores que foi a aprovação do projeto de ASSALTO AOS PROFESSORES ontem, à luz de um brilhante livro de Hannah Arendt, intitulado Eichmann em Jerusalém.Um dos imperativos categóricos do Terceiro Reich era o seguinte: “Aja de tal modo que o Füher, se souber de sua atitude, a aprove”. Assim Eichmann, que a serviço do Reich colaborou com uma complexa solução logística de extermínio Judeu, justificou-se durante o seu julgamento. Dizia-se um bom cidadão respeitador das leis. Mesmo que a lei fosse conduzir milhares de judeus a câmaras de gás.A partir desse evento, Arendt formula o conceito de “Banalidade do Mal”.

Isso foi o que percebi no plenário da Assembleia Legislativa ontem. O desrespeito, a covardia e a maldade foram banalizados em nome do cumprimento das determinações de Marconi Perillo e Thiago Peixoto. Patético espetáculo de deputados incapazes de refletirem sobre seus atos. Burocratas obedientes à lei do líder. Incapazes mesmo de justificar os seus posicionamentos, à exceção do neófito Talles Barreto, que o fez sob olhar desconfiado de seus aliados.

Senti-me no “coração das trevas”.


A favor dos professores votaram:Isaura Lemos (PCdoB), Mauro Rubem (PT), Luis Cesar Bueno (PT), Bruno Peixoto (PMDB), José Essado (PMDB), Major Araújo (PRB), Francisco Gedda (PTN), Daniel Vilela (PMDB) e Humberto Aidar (PT)." Fernando Dominience


DEPOIMENTO DE UM PROFESSOR (II)

"Gente, por que o espanto com essa decisão do nosso "governador" Marconi Perillo de reduzir a gratificação dos/as professores/as que têm mestrado e/ou doutorado? Vocês esperavam mesmo algo diferente do "governo" dele? Eu não esperava! Na realidade, o que ele está querendo dizer com essa decisão? Ora, ele está querendo dizer que: "Ei, você, professor/a do Estado, você é um/a professor/a do Estado, trabalha em escola pública, lida com as margens da sociedade, não precisa refletir demais sobre a sua profissão, não precisa fazer pesquisa, não precisa estudar muito, não precisa melhorar a sua prática, não precisa ser intelectual". 

O tal Marconi, juntamente com o seu fiel escudeiro da educação Thiago Peixoto, está querendo dizer que escola pública não é lugar para mestres/as e doutores/as; é lugar para máquinas que trabalham 60 horas por semana. Trocando em miúdos, poderíamos dizer que ambos estão tentando, uma vez mais, separar o joio do trigo. Na minha opinião, a universidade deveria tomar partido nessa revolta, pois, afinal de contas, é ela que forma os/as professores/as para atuar nesse ambiente que DESPREZA os méritos da pesquisa e da formação continuada. E aí, como vai ser?!"  

Marco Tulio de Urzeda-Freitas



3 comentários:

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  2. Gostaria de prestar o meu depoimento:
    Estou muito indignado! Meu sentimento é o de revolta! Não apenas por causa de salário, pois hoje ganho bem melhor que em outros tempos quando eu não era professor. Minha insatisfação é devida à incoerência que vivemos hoje. Assumi 38 aulas neste ano, das quais sou obrigado a cuidar de 37 diários. Terminei de preencher meu último diário às 18hs do dia do último conselho escolar, sendo que a reunião do conselho foi às 19hs. Minha extenuante tarefa é a de conseguir dar conta destes diários, preso à um sistema arcaico, o que para mim é frustrante, pois tenho intimidade com a tecnologia - além de professor sou projetista-cadista e designer gráfico para complementar minha renda. Também tenho que dar conta de ministrar filosofia com 1 aula por semana, que comporta a média de 45 min cada aula, e cerca de 30 min reais de aproveitamento. Mais um vez, sou engolido pelo sistema, que por seu formato, não me permite estimular os alunos à leitura e interpretação crítica - o mínimo que se espera da filosofia. Com a política de números e estatísticas vigente no ensino público, não só eu, mas todos os meus colegas são impelidos à aprovar alunos sem as condições adequadas de aprendizado. Ainda sim, me esforço, procuro preparar aulas mais atraentes, estudo e pesquiso para dotar de significado o conteúdo das minhas aulas. Pasmem: eu preparo minhas aulas! Vídeos, dinâmicas, debates, datashow, e todo o necessário para estimular e prender a atenção do aluno. Contudo, nado contra a maré, pois esbarro na estrutura precária das escolas em que dou aula. Existe muita boa vontade para fazer daquele ambiente decrépito, um lugar agradável e favorável à educação. Mas no fim das contas, quem é penalizado ou culpado por qualquer fracasso? Sou eu, professor! Pais, gestores (nem todos), alunos e autoridades imputam a mim qualquer sinal de fracasso no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, que aliás, em sua maioria, mal sabem ler e escrever, mesmo no ensino médio. Até agora falei da minha luta como professor, mas também sou estudante. Atualmente faço mestrado na UFG, o que me exige uma produção intelectual muito profunda e árdua. Passei recentemente pela qualificação, com a ressalva de que tenho muito a fazer em minha dissertação, o que me deixa numa situação bastante desconfortável. Sempre fui muito zeloso com meus estudos, empenhado, me esforço ao máximo para aprender e produzir com qualidade. Tenho uma série de leituras por fazer e revisões textuais a realizar para concluir com êxito minha dissertação. Me preparei para que ano que vem pudesse diminuir minha carga horária nas escolas, pois tinha em mente que receberíamos o piso salarial sem prejuízos financeiros. Ainda alimentava uma vã esperança de que o governo não nos deixaria na mão. Ledo engano. Terei que pegar a mesma carga horária para não ter minha percepção de renda drasticamente reduzida, pois ano que vem, não receberei mais a bolsa de incentivo da CAPES pelo mestrado. Além disso tudo, faço meus bicos, tenho clientes a atender para dar conta de manter minha família.

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  3. CONTINUAÇÃO:
    Explicado tudo isso, penso que meu desabafo é justo: Agora irão dizer que EU SOU VAGABUNDO e PREGUIÇOSO? E que choro de barriga cheia? Me perdoem amigos, não é do meu feitio, mas que essas pessoas vão pra puta que os pariu! Quer dizer que uma pessoa como eu, que lutou a vida inteira para ser alguém melhor, um cidadão consciente, um homem digno, com uma formação adequada, filho de empregada doméstica, sou pior do que este bando (quadrilha) de safados que conseguem tudo o que têm pela esperteza, sem méritos, sempre prejudicando outras pessoas para conseguir saciar sua sede de poder e riqueza mesquinhos e desumanos??? NÃO O ADMITO!! Tenho orgulho do que sou, vergonha na cara, amor próprio e brio! Não serão pessoas desqualificadas que irão diminuir todo meu legado e minha história de vida, com suas peripécias e maquinações. Eu, meu amigos, lutarei até o fim contra esta corja. E digo mais: os professores que não fizerem o mesmo, merecem coisa pior! Quem não valoriza aquilo que é e conquistou à duras penas, não é digno dos frutos da sua luta.

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