Quem fala de apagão de mão de obra deveria pensar no apagão das consciências.
Eu, você e o país inteiro já cansamos de ouvir que o Brasil deve ter como prioridade a educação. A moda, agora, é lembrar que a Coréia do Sul virou um país desenvolvido porque não esqueceu dessa visão no tempo certo. Que novidade, não?
Claro que a educação é prioridade número 1. Só acho que não vale ser tão hipócrita.
O Globo acaba de revelar, numa bela matéria de hoje, que temos um déficit de 300 000 professores nas escolas públicas para 2012. Supondo que nossas classes sejam formadas por 30 estudantes, é só fazer as contas para concluir que teremos milhões de alunos prejudicados em seus estudos no ano que vem. Não terão a materia devida ou vão recebê-la de mestres pouco preparados.
A razão? Salário. Os vencimentos desses professores estão abaixo da renda média do brasileiro. É isso aí.
O cara vai para a faculdade, forma-se, resolve fazer uma atividade que todo mundo enche a boca para dizer que é MUITO IMPORTANTE mas na hora de pegar o contracheque não consegue ficar nem na média da população. A renda média do brasileiro, em agosto, era de R$ 1470 mensais. Já o salário de professores, em média, não chega a R$ 1300. É essa a prioridade — com o bolso dos outros. É humilhante para quem leciona e para quem assiste aula. Eu poderia listar uma série de atividades que oferecem uma remuneração maior. Você também. Mas não vou fazer isso porque acho desrespeitoso. É uma forma de desvalorizar o trabalho alheio.
Mas está na cara que nossos professores ganham pouco. Quem discordar só precisa candidatar-se às 300 000 vagas existentes.
Paulo Moreira Leite (Revista Época > "Vamos combinar")
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